Mãe Citra
Quem tem medo de bebê chorão, bebê chorão, bebê chorão?
Eu caminhando alegremente com meu bebê Kabir e, de repente, encontro um amigo ou conhecido ou vizinho:
- Olá! Ai que bebê lindo! Tão cabeludo! Muito fofo. E aí? Como está sendo com o bebê? Ele é bonzinho?
(Pausa dramática pra eu entender o tal “bonzinho” e vem a resposta)
– Bem... Acho que todos os bebês são bonzinhos né?
Essa minha resposta não significa que não entendi o tal termo “bonzinho”. Sei que a pessoa, na verdade, quer saber se:
- o bebê é “bonzinho” comigo.
- se ele me deixa dormir.
- se é 24 horas fofinho ou irritante.
- se ele é chorão ou quietinho.
Resumindo, a pessoa quer saber o quanto esse bebê chora e se estou aguentando essa choradeira na minha linda vida de mãe. Parece quase um bordão social perguntar sobre o choro de um bebê para uma recém-mãe. Existe um tal medo, desespero, angústia de que a maternidade se resume a ouvir um bebê chorando todos os dias e mal dormir, mal comer, mal ter paciência pra viver...
Confesso que eu mesma pensei sobre isso antes de meu bebê nascer: Será que vou conseguir traduzir o choro dele? Será que ele vai chorar demais? Será que vai ficar noites e noites chorando e eu vou virar um zumbi? E se ele não parar de chorar mesmo eu fazendo de tudo?! Sim, mamães, estamos no mesmo barco das dúvidas e dos medos, porém, as coisas não precisam ser assim. Por muita sorte, antes de meu bebê nascer, tive acesso a textos, livros e relatos maravilhosos que me deram uma conclusão básica, que mudou minha total percepção sobre como lidar com o choro:
O choro do bebê é sua principal e maior fonte de comunicação.
Ok, você já deve ter visto esta frase em algum lugar ou até o pediatra pode ter te avisado sobre isso, mas será que entendemos realmente essa frase? Vou passar um exemplo que me ajuda muito:
Num dia normal, um adulto pode passar por alguns incômodos e com sua racionalidade, aliada a linguagem e experiência de vida, cada um deles é eliminado ou diminuído ao longo do dia. Vamos listar alguns:
- Bateu uma vontade muito grande de fazer xixi.
“Vou no banheiro mais próximo e faço xixi”.
- Estou caminhando na rua e o clima esfriou.
“Pego meu casaco na bolsa ou vou a um lugar mais quentinho, longe do ventro frio”.
- Comi uma feijoada e fiquei com gases o dia todo.
“Tomo um remedinho e depois preparo um chá e claro, comida leve e muita água”.
- Passei o dia inteiro batendo perna na rua, encontrando várias pessoas e interagindo com elas ao ponto de ficar exausta.
“ Chego em casa e prezo por total silêncio. Banho quentinho, música calma, meia-luz e cama!”
- Acordei irritada e não quero conversar com ninguém.
“ Aviso a quem tá perto que estou irritada e quero ficar sozinha.”
- Estou morrendo de fome.
“ Ataco a geladeira de casa ou vou para a pizzaria mais próxima pedir uma quatro queijos quentinha."
Agora vamos pegar esses mesmos exemplos e colocá-los na vida de um bebê...
- Bateu uma vontade muito grande de fazer xixi.
“Buáááááááááá!!!!”
- Estou caminhando na rua (no colinho da mamãe) e o clima esfriou.
“Buáááááááááá!!!!”
- Comi uma feijoada (via leite materno) e fiquei com gases do dia todo.
“Buáááááááááá!!!!”
- Passei o dia inteiro batendo perna na rua (no colinho de novo) , encontrando várias pessoas e interagindo com elas ao ponto de ficar exausta.
“Buáááááááááá!!!!”
- Acordei irritada e não quero conversar com ninguém.
“Buáááááááááá!!!!”
- Estou morrendo de fome.
“Buáááááááááá!!!!”
Deu pra perceber? Sim, um bebê pode viver todas a sensações descritas acima e irá responder a elas com um lindo, em alto e bom som, choro! Sei que saber disso não ajuda em nada na prática. Um bebê chorando pode estar precisando de mil e uma coisas que podemos estar bem longe de acertar. E daí? E daí que você não saiba? E daí que suas suspeitas do motivo do choro sejam erradas? Ver um bebê chorando pode ser um grande oportunidade de sairmos da caixinha do controle da vida para experenciar o universo, a linguagem, a percepção de um ser diferente de você. É a oportunidade de experimentar acertar e errar sem medo e culpa, sabendo que a conexão entre a sua linguagem e a linguagem de seu filho precisa de tempo, paciência e respeito para acontecer. E acontece! Por mais diferentes que sejam a forma do adulto e do bebê lidarem com os desconfortos, existe sempre uma oportunidade de diálogo e conversa. Isso não significa falar a lingua do choro também, (não que isso não aconteça, hihihihihihihi...) mas usar a sua linguagem com a intenção mais clara possível para se comunicar com o bebê. As linguagens vencem qualquer barreira quando há clareza de intenção. Que tal algo assim:
“ Amado filho, sei que algo te incomoda, mas ainda não entendi o que você quer dizer. Vou tentar mais uma vez ajudá-lo, mas se não der certo, pelo menos, te darei meu abraço e meu afago. Se mamãe ainda precisa entender algo a mais, me ajude a perceber, querido. Apenas quero te ver bem e feliz.”
Fica, então, o convite para novos diálogos com o bebê que chora. Ah, continuando a resposta a pergunta do bebê “bonzinnho”:
– Bem... Acho que todos os bebês são bonzinhos né? Bom, meu bebê, além de bonzinho, chora, às vezes chora muito! Sabe por quê? Porque ele se comunica assim e sabe que estarei ao lado dele para ampará-lo em qualquer desconforto que viver. Logo, logo, a comunicação dele será igual a minha, porém, enquanto isso não acontece, ele chora e eu o acolho, né bebê?
(E o Kabir abre um sorrisão lindo pra mim!)
Meu bebê é lindo. Meu corpo é feio.
Não se assuste com o título. É uma frase simples mas, de impacto e que se relaciona ao que talvez poucas mães falem: o corpo pós-parto. Entendo que exista uma mobilização crescente em engradecer as marcas do corpo grávido, seja pelas cicatrizes, seja pelas “sobras de pele”, estrias e qualquer outra novidade que aparece depois do nascimento do bebê. Porém, o que quero relatar aqui é um desabafo íntimo de quem entende tudo isso mas, ao mesmo tempo, não está em harmonia com esse novo corpo.
Só para deixar claro: nunca fui uma top model, nem tive um corpo definido. Já fui meio magra, muito magra, meio gordinha, inchada e outras variações. Sempre gostei de cuidar do corpo, mas nunca sai do básico: um hidratante, um bom xampu, maquiagem, fazer unhas e outras coisitas bem simples. Depois que me tornei vegetariana, há 15 anos atrás, resolvi ficar também mais natureba nos cosméticos e aprendi a controlar mais a língua – já fiquei 7 anos sem comer chocolate preto, 2 anos sem qualquer chocolate, 1 mês sem açúcar, 1 ano sem laticínios... E como exercício, sempre gostei muito de dança e alongamento, que basicamente fiz por muito tempo até também encontrar o Yoga. Acho que meu histórico nesse quesito é bem normal, né? Bom, vamos a gravidez.
Engravidei com muita plenitude! Amei cada centímetro do corpo grávido, mesmo com as dores, os milhares de sintomas e cansaços. Me lambuzava de óleos naturais todos os dias e sempre me contemplava no espelho. Namorava cada novidade como um prêmio! Não esqueço o dia em que o meu mamilo esquerdo mudou de forma e virou um mamilo digno de amamentar um bebê! Estava muito, muito feliz com toda aquela exuberância. Ao final da gravidez, tinha engordado uns 12kg. Aí meu bebê nasceu...
Acho que meu primeiro impacto sobre o corpo de pós-parto foi aquela sobra da barriga. Sabia que era normal, mas ainda assim me assustei. Toda aquela exuberância virou um tecido mole, escuro. Tudo meio sem sentido pra mim. Passou-se um mês... Além da barriga, apareceram pintas por todo meu corpo, manchas no rosto e os seios eram grandes, grandes demais pro meu gosto. Digo sem meias palavras que era muito difícil essa mudança. Eu não era a de antes, nem a grávida exuberante. Era agora outro alguém em tão pouco tempo que não sei ainda absorver a idéia. Confesso que mal me olho no espelho. Minhas roupas parecem todas esquisitas neste novo corpo, afinal sempre fui uma pessoa de poucos seios, cintura média, quadril largo e pouca barriga. Agora meus seios pulam de minha roupa, a cintura sumiu, a barriga apareceu e o quadril parece maior que antes.
Não quero assustar as futuras mães com este relato. Apenas quero dizer francamente que a mulher precisa de amor e acolhimento no pós-parto. Além de toda adaptação pra receber um bebê, alimentá-lo, aprender seu ritmo com ele, retomar lentamente suas atividades, ainda há um corpo diferente que pode mexer muito com sua auto-estima. Pra mim, foi um corpo deformado, no sentido mais literal da palavra: sem-forma. Era um misto do que fui até os 30 anos, do que criei em nove meses de gestação e a saída de um bebê de dentro de mim. Não acho que por conta disso as mulheres devem se desesperar pra ter um corpo menos “deformado”, nem que elas devam cair naquele papo besta de ficar atenta “pra não engordar senão você pode perder seu marido”. Nada disso mesmo! Sei que existe uma ansiedade infeliz na sociedade onde, ao saber de um novo nascimento, há a clássica pergunta: “E a mãe? Já voltou ao normal?”, ou seja, “Ela está magra ou engordou muito na gravidez? Tá fazendo dieta? Será que ela volta a ser como era antes? “. Mães, esqueçam estes papos... Vamos nos concentrar na relação única com seu corpo. Como você se sente? Acha ele feio, bonito, estranho? Quer fazer algo pra se sentir melhor? Comprar um óleo corporal, um creme que tira manchas? Fazer uma caminhada, exercitar o corpo, ou simplesmente você precisa de tempo pra se despedir do que você foi, ou da grávida que foi? Acho que este é meu processo agora. Enquanto faço algumas mudanças pra melhorar a minha auto-estima (renovar meu guarda-roupa, passar mais óleos, me exercitar mais, cortar alimentos gordurosos), vou me despedindo dos corpos que ficaram na memória e aceitando o que tenho até então. É um luto, é difícil, mas aceito viver este momento plenamente. Boas vindas ao corpo que está por vir! Boas vindas a ser outro ser!
Sogros, avós, pais e palpites: Uma conversa franca!
Escrevo este texto como desabafo, mas também como voz de muitas mães de primeira, segunda, terceira viagem que amam seus filhos, amam sua família, amam a família de seus companheiros, mas não conseguem se harmonizar na relação com os “mais experientes” .
De início, posso falar do mero conflito das gerações. Nossas mães aprenderam de um jeito, nossas avós de outro e nós de outro, talvez totalmente diferente! Temos mulheres hoje nascidas de cesáreas eletivas buscando parto domiciliares humanizados. Temos mulheres que tomaram leite Ninho quando bebês e que não querem dar nenhum laticínio aos seus até completarem 2 anos de idade. Temos mulheres que questionam vacinação, brinquedos eletrônicos, carrinhos de bebê, bebê recém-nascidos dormindo sozinhos, etc, etc, etc... Muitos são os questionamentos que, por vezes, afronta a mentalidade daquela mulher mais velha que nunca tinha questionado nada disso, ou não teve qualquer informação a mais para questionar, ou simplesmente acreditou que reproduzir a forma como foi criada era o suficiente. É imprescindível harmonizar essa avalanche de novas informações e práticas que as mães atuais desejam buscar com o que é conhecido e “natural” para as nossas avós, mães e sogras e, num espírito de humildade e compreensão, tentar explicar o que quer fazer, como quer fazer e porquê quer fazer... Mas não acho que essa conversa tem que parar aqui.
Serei direta: Por que nossas amadas mulheres mais velhas – e homens também – estão nos dando tanta dor de cabeça? Por que processos simples na vida de um bebê tais como dormir, comer, brincar, conhecer o mundo tornaram-se guerras sentimentais entre os pais e outros parentes do bebê?
Bom, se você é uma mãe (ou pai), é capaz de lembrar alguma escolha sua que foi desrespeitada, negligenciada, desconsiderada? Sabe aquele momento que colocam uma comida - que você não quer dar ao seu filho – na boquinha de seu bebê sem pedirem permissão? Sabe aquele momento de fragilidade que você precisa de tempo e amparo pra tomar decisões sobre o bebê e uma avalanche de palpites/críticas são jogados em cima de você? Sabe aquele dia em que você precisou inventar uma desculpa, fazer cara de “nada” ou fingir que não ouviu alguma fala maldosa sobre como você cria seu bebê?
Bom, se você é parente de um bebê e tem experiência com filhos, é capaz de lembrar um momento em que recebeu a visita de seu amado(a) com seu bebê fofo lindo que, de repente, começou a chorar? O que você fez? Esperou os pais decidirem ou deu mil e um conselhos/palpites e aproveitou para lembrar daquela velha prática sua que “sempre dava certo”? E no dia que foi pedido a você que não fizesse algo ou desse algo ao bebê? Como você se sentiu? Afrontado, magoado, desrespeitado?
Depois de falar os dois lados, posso então trazer o que vejo como a necessidade de ambos:
Pais querem viver a experiência de cuidar de seus filhos com liberdade. Querem acertar, errar e querem amparo emocional e respeitoso da parte dos mais velhos. Se um pai e uma mãe não procuram um mais velho quando estão com dificuldades, provavelmente é porque estão cansados de ouvir tantos conselhos/críticas.
Pais, mães, sogros, sogras, avôs e avós querem ajudar na criação dos bebês. Sentem a necessidade de fazer com que seus amados pulem as etapas chatas e difíceis para que curtam mais o bebê. Neste ponto, a intenção é realmente maravilhosa, mas na prática, por diversas vezes, os mais velhos perdem o tato em entender qual o limite deste tipo de comportamento.
No final, a presença de um bebê/criança torna-se a eclosão de uma batalha de egos, de sentimentos à flor da pele, de negociações cheias de mentirinhas sociais para garantir alguma harmonia. Mas já pensaram no que isso pode acarretar para a criança? Pode obrigá-la a escolher um lado de acordo com a maior vantagem que tenha. Pode levar a um reforço de esteriótipos (“gente mais velha é chata”, “avó foi feito pra estragar”, “sogro/sogra é um pé no saco”) que serão carregados para mais um geração que viverá os mesmos velhos conflitos.
E tem como sair desse impasse? Eu acredito que sim! Diálogo. Um conversa franca como esse texto. Falar de coração. Falar sem medos e jogos mentais. Expressar o que machuca, o que precisa e redescobrir a relação de alguma maneira. Os pais podem dizer, de verdade, como querem viver suas experiências, mas também mostrar o desejo de ouvir os mais velhos, porém na base da conversa, da negociação e do respeito. Os mais velhos podem revelar a necessidade que têm em serem cooperativos e ensinadores, porém podem pedir que sejam descritos mais claramente onde estão seus limites.
Duas reflexões a mais para concluir esse polêmico tema:
Pais, muitas vezes os mais velhos não têm nada contra as suas escolhas. Na verdade, eles ficam espantados com as novas descobertas a ponto de terem a sensação de que fizeram tudo errado. Como, às vezes, não há um clima de cumplicidade entre as gerações, os mais velhos acabam respondendo agressivamente a este sentimento doloroso de que talvez foram enganados ou informações fidedignas não chegaram até eles. Deve ser no mínimo muito difícil descobrir, depois de anos, que aquele lanchinho – cheio de açúcar e gordura - que amorosamente era preparado para você, pode ter sido a causa de doenças e problemas de saúde significativos.
Queridos parentes mais velhos, ainda que vocês tenham mil ideias sobre a melhor forma de cuidar de um bebê/criança lembre-se que o tempo também apagou da sua memória escolhas e sentimentos que hoje se repetem na vida dos seus amados. Ouvir o choro de uma criança hoje pode te causar uma grande angústia, porém, um dia, há muitos anos atrás, este choro era bem comum aos seus ouvidos e o fato de ouví-lo não o fazia mudar de idéia acerca de alguma escolha importante que você tinha feito para os seus amados (por exemplo, sobremesa é só depois do almoço. Chorou? Tudo bem, mas continuava sendo depois do almoço).
E que a harmonia reine entre nós!
O Brinquedo favorito de nossos bebês
Mais uma manhã gostosa se levanta e acordo ao som das risadinhas e do barulhinhos babados do meu bebê de um ano. Basta ele abrir seus olhos para que o mundo de brincadeiras comece. Fuça o criado mudo, abre gavetas, puxa coberta, sobe na cama, sobe em mim, sobe no pai e quando penso em chamá-lo, sua rota já se direcionou para explorar a cozinha e o banheiro.
Lembro bem na gravidez que quando pensava sobre o brincar de meu filho, nenhum brinquedo ou brincadeira vinha a minha mente. Parecia que não era algo que deveria planejar – tanto que quando ele nasceu, seus únicos brinquedos eram presentes de outros ou brinquedos antigos meus. Existia uma certeza interna de que ele me ensinaria o caminho e no fechamento do seu primeiro ciclo solar, venho refletir o que aprendi com esse ser:
- Brincar é um estilo de vida: Brincar é o ser do bebê. Algumas pessoas podem chamar de curiosidade, exploração do espaço, exploração sensorial e outros tantos mais, mas acho que brincar resume tudo e muito bem. O brincar está no banho, na hora de comer – sim! Comida é uma brincadeira vital para esses bebês! -, na hora de sair, na hora de conhecer outros seres – plantas, bichos, gente... -, até na hora de dormir! Vivendo o brincar, eles vivem sua alma de bebê.
- Brincar é livre: Brincar e liberdade são quase sinônimos. Ainda que você tenha vontade de controlar, arrumar e preparar o brincar, te aconselho a experimentar algo mais simples: crie o ambiente – confortável e seguro – e observe. Não indique os brinquedos que ele tem que pegar, nem como ele deve tocá-los. Deixe ele ser. Todas aquelas necessidades motoras que alguns brinquedos dizem estimular vão acontecer naturalmente porque seu bebê nasceu com isso inerente em seu corpo. O ambiente acolhedor e disponível irá trazer isso à tona num piscar de olhos! Posso listar inúmeras vezes que meu filho me surpreendeu encaixando a bolinha de tênis no buraco da peça do espremedor de laranja. Ou quando empilhou brinquedos, caixas e bolas, ou quando pegou uma migalha de pão do chão e tentou colocar nos minúsculos buracos de um brinquedo. Eles sabem! Eles vão fazer! Você só precisar sentar e assistir este espetáculo do desenvolvimento humano.
- O brinquedo que não é brinquedo: Ouvimos tanto dos mais experientes que precisamos ficar de olho nos bebês enquanto eles brincam, para evitar que manuseiem objetos perigosos, porém ninguém me avisou que a última coisa que eles querem é seus brinquedos! Ok, eles querem um tantinho dos seus brinquedos, mas não há nada que mais os empolgue do que um molho de chaves, uma carteira, uma colher de pau, umas tampas de panela, o xampu, a caneta, o computador, o celular , etc, etc, etc - porque a lista é longa! Mas, afinal, porque eles fazem isso? Com um mundo de brinquedos dados por avós, tios, padrinhos, amigos, essa criança encasqueta bem naquilo que está na sua mão, ou na sua bolsa, ou no seu quarto? Aí vem o segredo que mudou tudo pra mim: Somos o brinquedo favorito de nossos bebês! Eles amam brincar, mas amam mais ainda brincar com seus objetos de amor. Eu diria que eles sentem energicamente nossa presença através destes objetos. Afinal, o brinquedo da loja tem energia do quê? Da máquina que o fez? Do empregado que o embalou? Mesmo que seja um produto artesanal, se o artesão não tem vínculo com seu bebê, porque ele demonstraria interesse por seus brinquedos? Dessa questão, fiz vários testes: coloquei brinquedos lindos e coloridos perto dele e algo meu mais ao longe. E adivinha? Ele queria meu objeto! Brinquei por um tempo com brinquedos dele e de repente, aquilo que ele nem ligava virava objeto de interesse. Com isso em mente, sigo para minha última reflexão.
- Construa o brinquedo! Mais do que brinquedos lindos, cheios de cores, sons, texturas e novidades, os bebês adoram construir o objeto do brincar! Com crianças maiores podemos ver isso perfeitamente, mas bebês também carregam essa característica. Construa torres, labirintos, encaixe peças diferentes, qualquer coisa do tipo e, mais ainda, deixe-os acompanhar o processo de construir. Seus olhinhos brilham de emoção a cada nova etapa e no final o brincar fica mais entusiasmado!
O ciclo de um ano se fechou. Vamos ver o que me reserva para o ciclo dois! Serão 365 dias de muito e muito brincar!
O Sling que eu NÃO deveria usar
Conheci o sling antes mesmo de engravidar. Observava aquelas mães lindas e poderosas carregando seus “filhotes” pendurados no colo com um pano macio e flexível. Adorei a idéia simplesmente pela praticidade, mas logo descobri as milhares de vantagens para o bem-estar do próprio bebê, que ainda vive um processo de extero-gestação.
Quando meu filho Kabir nasceu, no outro dia lá eu estava pendurada com ele. Confesso que, ao mesmo tempo que aquilo me dava satisfação e alegria por sentir sua presença tão viva perto de mim, também usei o sling para o “proteger” um pouco do mundo. Vou explicar brevemente.
Ao final da minha gravidez, à espera do parto – que foi uma tanto peculiar em muitos aspectos – tive dificuldades de relacionamento com minha sogra e meu esposo. Fiquei bem isolada neste período, o que me fez muito bem, porém, depois do nascimento do meu filho, não queria sair tão fácil desse casulo e logo não dei muito oportunidade para o Kabir sair também. Só me dei conta disso quando, 2 meses após o parto passei 10 dias com minha mãe em Salvador, Bahia e claro, com tanto calor – era inverno em Curitiba – era impossível manter a cria tão enclausurada. Além do que, o acolhimento da minha mãe foi precioso e me deu segurança para eu enfrentar o mundo lá fora. Em um dos momentos de banho ou troca de fralda, percebi que naqueles 2 meses eu mal tinha olhado meu filho. Não reparei sua cor de pele, seu cabelo, sua marcas, e muitas outras características. Eu literalmente o escondi no sling. E o escondi até de mim mesma! Sou muito grata ao uso do sling, mas este acabou se tornando um instrumento para bloquear meu caminho de contemplação sobre o novo que se abria diante de meus olhos. Logo, enquanto algumas mulheres precisam muito do sling para sentirem o acolhimento e segurança para criar seus filhos, eu, pelo contrário, precisava de um pouco menos de tempo do sling para perceber e contemplar meu filho e minha nova realidade.
A experiência da maternidade é algo muito intenso e incrível e cada um realmente vai descobrir como traçar seu caminho. Sou grata ao sling no dia-a-dia, mas sou mais grata ainda por ele ter me ensinado que há tempos que seu “não-uso” vale mais a pena do que qualquer praticidade.
A Maternidade é apenas a Arte de Cuidar
Mães, convenhamos… Quando saímos na rua com aquele lindo barrigão, o que ouvimos além do clássico, “ é menino ou menina?” Ouvimos que não vamos conseguir dormir, que vamos comer comida fria, que mal saíremos de casa, que você não vai conseguir tomar um banho direito, que sua roupa vai cheirar a gofo de bebê - e lá se vai uma lista longa de itens negativos e aterrorizantes na maternidade.
Aí a coisa mais linda e fofa do universo nasce! Você cheira, lambe, abraça, beija e passas horas contemplando aqui pedacinho de vida tão intenso... E cadê a tal da parte ruim? “Ops”, você diz, pois basta alguns dias para que aquele quadro terrorista da vida materna aconteça bem diante de seus olhos.
O fato é que as pessoas esquecem que tudo isso acontece - e muito, muito mais – porque você está fazendo algo tão básico chamado A Arte de Cuidar. Lembro muito bem dos meus medos – ok, desesperos! – ao pensar se daria conta de cuidar de uma criança. Medo de errar, de não aguentar, de ficar o dia inteiro suja, chata e irritada. Será que conseguiria? E para piorar, depois que o bebê nasce todo mundo faz um check list só pra ter certeza que você está sofrendo muito. Mas o mais legal é que eu descobri um jeito lindo de responder a essas questões: “Ah, é assim mesmo, mas tudo bem, ele é meu bebê, precisa de mim.”Afinal, não estou sendo torturada, estou cuidando de um ser!
Por uma grande dádiva do destino, desde a adolescência me envolvi em atividades sociais e religiosas onde o cuidar do outro é prioridade. Então, de uma certa maneira, meu olhar foi moldado a viver sempre com essa antena “ligadinha”. Peguei, devolvo. Sujei, lavo. Baguncei, arrumo. Usei, entrego. Mais ainda, estas atividades, emaranhadas de filosofia humanista espiritualista, me ensinaram a ir além: Peguei, devolvo com gratidão e antes do prazo. Sujei, lavo e ainda limpo a sujeira deixada pelo outro. Baguncei, arrumo e deixo o ambiente ainda mais confortável. Usei, entrego o mais breve possível e até ofereço algo meu para a pessoa utilizar. Adotar a Arte de Cuidar torna nosso ser leve e doce em meios as tribulações e impasses da vida.
É dificil perder o sono por causa do bebê, mas estou cuidando dele. A privação do meu sono hoje será a segurança emocional do futuro homem que ele vai se tornar. Parar tudo que está fazendo para educar uma criança ansiosa e nervosa é cansativo, mas cada pedacinho dessa atenção construirá seu caráter e respeito pela vida. Assim poderia enumerar tantas outras situações.
A maternidade, muitas vezes, é um fardo porque, de repente, no meio da nossa vida “de boas” preenchida com compromissos apenas seus, de você para você, aparece um ser que te diz: “Preciso de você, cuide mim”. E agora? Agora é hora de ler, se reeducar, aprender tudo de novo até que a Arte de Cuidar se consolide em seu coração. Melhor ainda, que ela se expanda para além de seus filhos, família, lar.
Conselho de amiga: aproveite esta oportunidade de cuidar de um filho para ir além, cuidando do próximo continuamente, sempre encontrando novas oportunidades de servir, independentemente dos seus desejos e vontades momentâneos.
O PREÇO da Maternidade Ativa
Em meio ao turbilhão de informações que recebemos todos os dias via redes sociais, criamos uma noção fantasiosa da vida, endeusando as pessoas que admiramos, considerado-as seres mais “capazes” de vencer as pressões da vida e fazer a diferença.
Pois então, essa visão tira de cena um PREÇO. Sim, um preço que todos os dias, mães e pais que querem fazer a diferença pagam, sem dó nem piedade. Todos os dias há inúmeras renúncias, desafios, reflexões, medos, tudo misturado lá dentro e que meia dúzia de pessoas conseguem perceber.
Amo a vida que escolhi para meu filho. Amo a maternidade consciente, tempo de qualidade, alimentação saudável, educação positiva e tantas coisas lindas que aprendi com pessoas maravilhosas, me dando a esperança de reconhecer a infância de outra maneira. Mas, para cada escolha, há um PREÇO, um preço alto, pouco vísivel e que nos desafia a nadar forte, avante, contra a maré cultural e social que nos permeia.
Meu filho é incrível! Ativo, feliz, curioso, sensível, inteligente, mas... está viciado em desenhos animados. Evitei ao máximo o contato com tecnologias, entendendo bem o embotamento sensorial e mental que elas acarretam. E como ele mesmo demonstrou pouco ou nenhum interesse por elas, tudo foi fácil e fluido. Mas o tempo passou. Tenho um bebê de quase dois anos que acorda todos os dias e fala: “Masha, masha, masha, masha, masha – ad infinitum”. Masha é o desenho “Masha e o Urso” que agora, para ele, significa qualquer desenho. Masha é:
“Mamãe, liga o computador que eu quero sentar e assistir um desenho atrás do outro, até ficar nervoso, chato, chorão e querer alguma atenção.”
Perceber meu bebê assim doeu. Para muitas pessoas pode parecer bobagem. É só um desenho, diriam. Todo mundo já viveu essa fase, complementariam. Mas para mim não. É meu filho: lindo, ativo, curioso que se nega a espalhar as panelas do chão, que deixou de puxar a barra da minha saia pedindo colo, que não me segue mais pela casa e nem futuca mais cada canto novo. Onde ele está? Sei que está ali pois basta irmos para uma praia, uma rua cheia de folhas ou um encontro com vizinhos para ele pular, brincar, correr, e ser livre e leve.
Ou seja, para mim, não faz sentido aceitar um bebê zumbi: calmo e obediente. E aí chega o momento de pagar o PREÇO. Todos os dias, respirar fundo e pensar: “Como dar outras possibilidades para ele? Será que invento um jogo? Uma brincadeira? Dedico a manhã para ele? Saio na rua mais vezes?” E assim minha energia, empenho e dedicação vai para ele, por me importar com ele, por querer oferecer mais e melhor. Mas tem o PREÇO, tem a dor de sair da zona de conforto, de tapar os ouvidos as opiniões alheias - bisbilhoteiras, de ser criativo, de acessar o novo, de alimentar possibilidades.
E isso se estende a tudo. Na escolha da rotina, na fileira do supermercado, na hora de dizer não, na hora de dizer sim, de apagar as luzes para acalmar um bebê que precisa dormir, na hora de sair ou não de casa, de aceitar ou não um convite para um evento... – uma longa lista.
Amo minha maternidade mas sei o PREÇO que pago por ela todos os dias. Não se enganem. Não somos heróis ou heróinas. Somos sensíveis a aceitar pagar o PREÇO de amar e cuidar de outro ser constantemente e assim experimentar o valor real da vida, imperfeita e plena.
"Filhos? Que responsabilidade!"
Essa é uma fala bem comum que ouço desde que tive meu filho, Mas, o engraçado é perceber que quase nunca me identifico com ela.
Matutando o porquê disso conclui duas coisinhas que vou compartilhar aqui.
1. Para mim, é uma grande ilusão achar que filhos são a responsabilidade dos pais. Eles são a responsabilidade também dos pais, mas não somos os únicos! Uma criança que vem ao mundo é responsabilidade de uma nação, um governo, um bairro, um prédio, uma casa, um lar. Crianças são seres que compartilhamos entre si. Quando a criança está na escola, do porteiro a professora, todos são responsáveis. Se está brincando na rua, do pedestre aos vizinhos, todos são responsáveis. Se está no dentista, da recepcionista ao odontólogo, todos são responsáveis. Recomendo que vejam o filme "O Começo da Vida" para entenderem a minha fala por completo.
Crianças são seres frágeis e estão criando memórias e bases emocionais para o futuro adulto que governará um país ou o futuro professor que estenderá conhecimento para seus alunos. Ao assumirmos, todos, a posição de responsáveis destes seres, tiramos dos pais uma enorme carga de responsabilidade-culpa que eles sofrem diariamente.
2. Esta frase pouco ressoa em mim porque sinto nela uma necessidade de enfatizar que se temos alguma responsabilidade na vida, quanto temos filhos AÍ descobrimos que temos uma responsabilidade de verdade! Sério? Se você acha que ter filhos é um grande peso de responsabilidade, talvez você não esteja conectado completamente as pessoas que te rodeiam. Parece que como os filhos não podem ser "devolvidos", eles se tornam um peso maior na nossa vida. Não! Gente, presta atenção comigo. Inverte a idéia: o fato da GENTE não levar a sério muitos relacionamentos nossos ao ponto de "devolvê-los" (seja com uma separação, seja cortando contatos, seja desprezando aqueles que temos laços e nos magoaram) pensamos que os filhos são muitos mais difíceis de se relacionar, afinal se um filho te magoa, te entristece, te deixa mal, você vai se separar dele? Muito difícil.. Por que não pensamos assim, então, sobre nosso cônjuge, nossos amigos, nossos parentes? Por que damos uma nova chance aos nossos filhos, mas cortamos de vez laços com aqueles que não têm o título de "filhos"? Por isso não me identifico com a idéia de que filhos sejam uma MEGA responsabilidade! Meu casamento é uma responsabilidade, minha família de nascimento também, meus amigos, meu guru, meus mestres, todos eles são de grande valor para mim, Meu filho apenas somou a essa lista de responsabilidades que tenho orgulho de viver.
Assim fica a reflexão:
Não pesem a idéia de ter filhos como uma grande responsabilidade. Vejam essa relação como tão digna de cuidado e atenção como qualquer outra, sendo claro que você é parte deste processo, e não o único elemento vital.
Capitou? Ufa! Deu até um alívio, né?
Meu filho tem "preguiça" de falar
Esse vai ser um texto MEGA desabafo, porque na verdade nunca falei disso com ninguém até agora... Sabe aqueles segredinhos sujos do nosso coração que a gente finge que não tá ali? Pois então, em vias de me libertar totalmente disso, no lugar de desabafar privadamente, vou escancarar minha mácula para quem sabe diminuir a oobscuridade dela na minha vida.
Eu acho que meu filho tem "preguiça" de falar. Ele tem dois anos e 3 meses e fala, Fala pouco, fala as mesmas palavras e pouquíssmas vezes monta frases ou deixa claro em palavras seus desejos. Para mim parece que não é suficiente. Especialmente quando encontro crianças na mesma idade que conseguem falar sem vacilar: "Mamãe, quero comer um pão agora." Meu filho diria algo com: "Mamãe, pão, pão, pão".
Eu sei que cada criança tem seu desenvolvimento, que alguns tem uma tendência mais verbal, outros mais física e blá blá blá. No final o dia, eu vejo apenas essa frustração dentro de mim. Um monstro feio que diz:
"Eita que essa criança não fala né? Tá com preguiça! Insista! Não dê algo até ele falar direito. Faça exercícios. Peça para ele repetir frases. Se continuar assim ele vai ficar atrasado em relação as outras crianças"
MENTIRAS, MENTIRAS e mais MENTIRAS. Eu sei que tudo isso é um grande MENTIRA, que na verdade nós adultos temos um tendência cultural de comparação e padrão de desenvolvimento para tudo na vida e especialmente temos um olhar-vigia em relação aos bebês, exaltando aqueles que engatinharam com 4 meses e fazendo cara de pena para os que com 3 anos ainda usam fraldas... Por mais fofos que sejam os bebês, nós temos esta tendência triste de esperar deles algum tipo de "performance", queremos todos um bebê prodígio que deixe nossos vizinhos de boca aberta e que digam o quanto "especial "é nosso filho por essa ou aquela habilidade. E nós, passivamente, concordamos com isso porque nosso coração também é assim...
Cada dia para mim é uma luta constante para diminuir o poder deste "lobo mau" da comparação, compentência, esforço e habilidades sobrenaturais. E sabe quem mais me ajuda nisso? Meu filho! Meu pequeno menininho, quer esteja com crianças altamente faladoras ou silenciosas, não se compara e nem se preocupa com isso.
Quando me sinto muito mal por estar pensando assim, costumo pegar ele no meu colo e olhar bem nos seus olhos e eles me dizem:
" Tá tudo bem. Eu não te julgo. Um dia te revelo a minha fala assim como no dia que alguém te perguntou: 'ele já anda?', você respondeu de cabeça baixa, 'não..' e aí eu me levantei sozinho e dei meus primeiro passos e olhei para você e disse nos seu coração: 'eu sei andar mãe, mas estou preparando o momento certo para isso. Tá tudo bem'"
Finalizo em lágrimas essa confissão de um coração ainda duro, cheio de apegos mas também cheio de esperança que eu vá além dessas obscuridades. Neste momento eu me perdôo e me tolero por ser assim, sabendo que uma dia estas coisas podem dimunuir seu peso e força o amor fluirá livre, leve e solto.