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Puro Ser

Textos para elevar o Ser!

inutil

O Inútil Amor!

Conectar as palavras "inútil" e "amor" não parece ser um sinal de harmonia, afinal o amor parece algo tão "útil", no sentido de "essencial" na nossa vida. Colocar a tal "inutilidade" neste amor parece demonstrar uma idéia de algo a ser "descartado", "desprezado". Será que é essa nossa idéia? Devemos desprezar o amor? Ou será que o amor não parece ser algo "tão"importante como achamos que é? Ou será que existe no amor, a sua inutilidade? E isso seria bom ou ruim? 

Até chegarmos a essa frase de impacto - até para nós mesmos! -, "o amor é inútil", ou " a inutilidade do amor", discorremos sobre o caminho da idéia de utilidade. Meditando sobre os comportamentos humanos, as crises dos relacionamentos, as crises existenciais, dentro de uma sociedade voltada a cultura do ganho material, do status social, da troca de favores, etc... observamos que, às vezes, estamos depositando um olhar sobre a vida, de acordo com a funcionalidade que as coisas a nosso redor admitem. Isso significa que podemos estar atribuindo valores de importância ao que se apresenta diante de nós, na medida em que aquilo seja funcional para mim, ou seja: "sirva para algo",  "preste", "seja útil". Sabemos que a discussão sobre as utilidades tem permeado muitas teorias acadêmicas, especialmente nas Artes, já que o simples devaneio de desfrutar de uma obra artística tem se tranformado, em dados casos, num momento meramente funcional: "esta é a hora do lazer". Acreditamos que esta percepção tem permeado livremente, também, em nossas relações, na construção de nossos sentimentos, essencialmente. Tirando, é claro, as observações grosseiras desta mentalidade, como os testes de revista sobre "Seu parceiro ideal", indo até as agências de casamento, com sua habilidade técnica em determinar a possibilidade de um casal estar junto, estamos querendo trazer uma abordagem mais profunda e, talvez, menos perceptível. O amor inútil é a experiência de viver o amor por si só, sem um fim necessário, sem uma meta definida, sem limitá-lo a uma utilidade na nossa vida - "ser feliz", "ter um bom casamento", "não estar sozinho", "encontrar o melhor companheiro (a)", etc. É o amor sem oferecer justiça, verdade, ou razão... Ele por si só é suficiente e consegue, dentro da sua natureza infinita, transparecer, sem que os nossos desejos de "utilidade"sejam preenchidos. As pessoas deixam de ser objetos de nossa "utilidade", de cumprir papéis e fazer as coisas como queremos, ou do jeito mais confortável. Amor inútil é a porção mais íntima e forte sobre amar, sendo alcançável para qualquer um de nós, não restrigindo-se as dimensões do santos e auto-iluminados. Ele se revela nas diversas situações da vida, principalmente no fatalmomento de fazer escolhas. Imagine escolher movido pelo Amor Inútil? Ou seja, escolher sem a necessidade de que aquilo no futuro te traga aquele efeito aparentemente garantido? Escolher alguém para amar, simplesmente por escolher e não porque este, ou esta, oferece algo para mim? Aí está, o Amor Inútil!

 

amar
Amar e ser livre!

O colunista Sydney Harris conta uma história em que acompanhava um amigo à banca de jornal. O amigo cumprimentou o jornaleiro amavelmente, mas como retorno recebeu um tratamento rude e grosseiro. Pegando o jornal que foi atirado em sua direção, o amigo de Harris sorriu polidamente e desejou um bom fim de semana ao jornaleiro. Quando os dois amigos desceram pela rua, o colunista perguntou:

 

- Ele sempre te trata com tanta grosseria?

 

- Sim, infelizmente é sempre assim.- E você é sempre tão polido e amigável com ele?- Sim, sou.- Por que você é tão educado, já que ele é tão inamistoso com você?- Porque não quero que ele decida como eu devo agir.A implicação desse diálogo é que a pessoa inteira é “seu próprio dono”, que não deve se curvar diante de qualquer vento que sopra. Não é o ambiente que a transforma, mas ela que transforma o ambiente. A pessoa inteira é um Ator e não um Reator. (John Powell)

 

Esta história real é fascinante, pois traz no exemplo deste simples homem a possibilidade de sempre nos alinharmos ao princípio do Amor. Ser Ativo sobre a nossa reação e tornar nosso comportamento um reflexo de nossos pensamentos mais valiosos confere a nossa vida a verdadeira liberdade que tanto ansiamos. Às vezes, cogitamos a idéia de liberdade ao que nos impele instintivamente, sem repreensões, sem limites, porém, também somos capazes de perceber que o resultado deste impulsividade nem sempre é satisfatório e pode até causar sérios danos em nossos relacionamentos. O princípio da Mágoa nos coloca numa relação de reação automática ao ambiente que nos ronda, como um forma de defesa sobre o que nos afronta, afim de que possamos nos sentir protegidos de qualquer mal. E para tal comportamento nos alimentos desta dita "liberdade"de palavras, ações e pensamentos. No entanto, o princípio do amor se defronta com a perspectiva de não precisarmos reagir a nada, pois nada tememos e de nada precisamos nos proteger. Ao amar, aprendemos que podemos escolher nossos comportamentos, ainda que eles estejam em conflito sobre os nossos sentimentos naquele instante. E porque escolher esse comportamento? Porque o Amor real e verdadeiro nasce do olhar ao outro. Aquele que está na nossa frente sempre irá nos oferecer uma oportunidade de amar, sejam nos bons ou maus momentos. E quando decidimos o princípio do Amor, escolhemos uma reação do Amor e, como resultado, ganhamos uma liberdade imensa de não sermos dominados por sentimentos mesquinhos e egoístas. Uma liberdade sem os limites das nossas fraquezas e oscilações. Que tal escolher hoje uma comportamento de amor e experimentar esta liberdade? 

 

como
Como e o que fazer 

Uma forma simples de explicar estes dois termos fundamentais para a compreensão da importância do exercício de amar é através do conceito "como fazer/o que fazer". Ilustrando, lá estava Newton, em sua escrivaninha, com a mão na cabeça, sentado. Passa por ele um servente e diz: "Descansando, seu Newton?", no qual Newton responde: "Não, trabalhando". Num outro momento, estava lá Newton arando a terra, cuidando do jardim. O mesmo servente o avista e pergunta: "Trabalhando, seu Newton?", no qual Newton responde: "Não, descansando."

 

Esta pequena história nos apresenta de forma clara o que é Lila e Tattva. Tattva (em sânscrito, "tat"- isto, "tvam" - tu) pode ser traduzido neste contexto como "a verdade bruta", o fato. Expandindo mais ainda este conceito na história, podemos entender como tattva a ação de Newton, tanto no pensar e escrever quanto no arar a terra. Lila (em sânscrito, passatempo), é o aspecto interno, é o "detrás dos panos", é a intenção da ação. Na história, é a intenção de Newton ao executar as atividades. É a busca do "trabalhar" e do "descansar".

 

Agora vem o refinamento. Vemos o servidor que, devido a atividade de Newton, devido a sua observação dos acontecimentos, conclui erroneamente que Newton descansava quando na verdade trabalhava e vice-versa. Este somos nós, seres humanos dotados de habilidades incríveis, porém tendenciosamente limitados a ver e enxergar apenas aquilo que está ao alcance de nossos sentidos, considerando isto o fato real, limitando nossa visão em apenas tattva, como se tattva fosse, definitivamente, tudo.

 

Mas, observemos mais de perto. Se avaliarmos bem o servidor, ele não está preocupado com a ação de Newton, e sim com a intenção da ação. Nos preocupamos com as ações do dia-a-dia, tanto nossas quanto a do próximo, e temos um pré conceito de que tattva leva a lila, percebem? Achamos que porque Newton está sentado é porque está descansando, e não "porque Newton está descansando ele está sentado". Parece a mesma coisa, né? Mas não é!

 

Tattva não nos dá a resposta que procuramos. Apenas lila nos apresenta isto. Apenas "lila" mata nossa sede do entendimento dos fatos, pois, aprofundando mais ainda, nós só vivemos lila. Nós somos seres que vivem imersos em emoções. Lendo o parágrafo anterior, vemos que ambas as respostas estavam erradas, pois Newton, quando estava sentado, estava trabalhando, e não descansando. Porém, estar certo não é o mais importante. Importante é sabermos o que queremos. Nós não queremos tattva, estamos ávidos por lila.

 

Assim, conhecendo estes dois conceitos desta maneira, podemos reavaliar nosso próprio jeito de avaliar os fatos. Será que estamos julgando adequadamente (convenhamos: o julgamento, o discernimento, faz parte de nosso dia-a-dia, e ele é necessário para podermos avançar rumo ao caminho que nos interessa)? Será que estou dando a devida atenção as minhas emoções e as do próximo? Tenho praticado o princípio do amor, ou só venho seguindo etiquetas sociais?

 

mente
Mente Fatalista


Sim, Calvin! Te entendo bem... Muitas vezes meu cerébro tentou me matar. Às vezes, desse jeitinho sarcástico, às vezes, diretamente cruel e maldoso. 

 

Desde que me conheço como gente, tenho esse vício: me preparar para uma fatalidade. Em outras palavras, carrego uma mente fatalista 24h, a tiracolo. Antes de tudo, vamos ver as características de um mente fatalista:

 

- Vive com o olhar no futuro. Se algo de ruim acontece, prevê como a situação pode ficar pior. Se algo de bom acontece - além de não acreditar que aquilo seja real -, continua se preparando para o pior.

- Atividades simples como, caminhar na rua, pegar um ônibus, comprar pão são acompanhadas de "estratégias de segurança", para que nada de ruim aconteça.

- O fatalismo não precisa ser algo sério como um acidente, uma perda grande de dinheiro, um fracasso no trabalho. Pode ser qualquer coisinha, do tipo: não encontrar exatamente aquele produto que precisava para aquela hora, não gostar de um novo emprego, encontrar 'aquela pessoa' indesejada numa festa, ficar doente bem no dia em que havia se programado para resolver mil "pepinos"...

- Vive acompanhada de medos, cada um com sua justificativa em existir e se manter. "Não vou fazer isso porque já conheço fulano e sei que não vai dar certo trabalhar com ele", "Eu até tentaria isso, mas é muito arriscado.. Se acontecer algo comigo, ninguém vai me ajudar! Vou ficar sozinha, sofrendo!"

- Mesmo sendo uma 'identificadora (perseguidora?) de problemas', a mente fatalista se alimenta ainda mais de pensamentos de solução. É uma equação bem simples: penso nas possibilidades de problemas + conhecimento sobre local, pessoas, objetos + mecanismos de defesa = algumas tantas possíveis soluções. Não deu certo uma? Tento outra, e outra, e outra, e outra... O ponto é que não posso ser exposta a nada, sem antes ter alguma garantia na manga, no bolso, no sapato, no chapéu(!).

 

E essa é minha mente fatalista! Triste, não? Já percebeu algo em você em pequena, média ou grande semelhança? E o que fez quando percebeu isso? Bem, eu vou trazer meu caso. 

 

Estou há alguns anos me observando, me auto-confessando, avaliando o ser que sou. Ali, no meio da bagunça, achei a tal mente fatalista. Tenho ela desde a infância e para cada nova fase que entro, novos fatalismos acontecem. Se na infância era o fatalismo de não ganhar um brinquedo, um chocolate, uma nota na boa na escola, na vida adulta, os fatalismos estão na falta de dinheiro, de fidelidade, de amizade. De lá pra cá, foram muitos pensamentos nocivos, estratégias sem-sentido, e percebi que estes fatalismos eram tão naturais, que já não serviam como proteção - e nunca vão servir! São manias, se misturam aos meus pensamentos corriqueiros... Quando passei a olhar a eles com mais atenção e cuidado, notei os absurdos mentais que construí. Exemplo: 

 

Estou caminhando pela rua, ouvindo uma boa  música, e o céu dá sinais de uma tempestade. Estou a poucas quadras de casa e vejo a formação de relâmpagos e trovões. Passo ao lado de um poste e penso: "Um raio pode cair neste poste, bem no momento em que eu passar por dele, e posso morrer há poucos metros de casa...  Será que atravesso a rua e fico num local coberto?" Enquanto o pensamento se desenrola, já passei pelo poste e a tempestade até diminuiu seu ritmo. 

 

A diferença de uma mente fatalista, com um mente preocupada com sua própria sobrevivência (função básica do medo) é que aquela não é nem um pouco funcional. Os pensamentos passeiam, e normalmente não sigo os conselhos dela. É só um vício, um mania. Então, isso é bom? Afinal, se eu colocasse em prática todas as sugestões da mente fatalista, me tornaria, no mínimo, uma neurótica. Não, não é bom. Mesmo que tenha atestado de sanidade mental, por não seguir os conselhos fatalistas, essa engrenagem de pensamentos se torna o alicerce de sintomas piores: baixa auto-estima, depressão, desesperança, medo, controle exacerbado, falta de confiança (na vida, nas pessoas), apegos desnecessários, etc, etc, etc... a lista é longa e já vivi/vivo muitos itens dela.

 

Depois de identificar essa presença nociva do fatalismo, veio o segundo passo: refletir. Este me levou a uma conclusão mais simples:

 

Os meus fatalismos querem me proteger dos sofrimentos da vida. Tenho a necessidade de me sentir mais preparada para enfrentar o pior, porém, não há nenhuma vantagem nisso. Afinal, quer a mente fatalista acerte ou não o que vai acontecer, quando o fato acontece, ele será sempre impactante, não importa o tanto de preparo que tenha sobre ele.

 

Isso foi o mais interessante. Minha mente fatalista já acertou muitas coisas! E aí? Mudou algo? Sofri menos por causa disso? Não! O fato de saber ou não o que vai acontecer não muda a maneira como vou me sentir com aquilo. Fatalismo solto na mente é apenas fruto do medo, que é fruto de uma tentativa errônea de controlar a vida, que vem de um desejo tolo de achar que "sabemos o que nos faz feliz". Hoje tenho um desejo. Quero ser feliz com o que a vida me apresenta agora! Se for bom ou ruim, não importa, sempre haverá algo ali que pode ser vivido em plenitude, sem medos desnecessários e com pequenas gotas de felicidade, alegria ou contentamento...  O medo nunca irá transformar a minha relação com o sofrimento, apenas o amor faz isso, porque me revela o que quero ser e como quero estar, independentemente das circunstâncias do momento.

 

Mente fatalista, está na hora de você ir embora! XD

 

Citra dasi

 

ciumes
Ciúmes: "Eu sei que perdi"


Ciúmes no relacionamento pode ser apenas uma característica leve, divertida e pode dar ao casal os limites que enfraquecem ou fortalecem a relação. Quando os ciúmes enfraquecem, especialmente, a confiança, o diálogo e os sentimentos amorosos, as coisas podem sair do eixo, ao ponto do fim da relação ser a única solução - aparentemente - favorável. Você já sentiu ciúmes? Você já sofreu por ciúmes? 

 

É normal caracterizar o ciumento como uma pessoa insegura, desconfianda, instável e, às vezes, sem limites na hora de impor "regras" sobre a relação. Mas, queremos ir a fundo sobre este assunto, observando os caminhos de Lila e Tattva (para conhecer melhor este conceito, leia o texto Como e O que fazer) ao lidar com o ciúmes.

 

O ciumento parece ter medo de perder o amado(a) e, por conta disso, age, muitas vezes, irracionalmente. Hoje queremos te apresentar algo ainda mais profundo: O ciumento não tem medo de perder a pessoa amada. Ele sabe que já perdeu. Seu processo mental é apenas saber como ele "perdeu". E, mais ainda, ele quer ser o primeiro a saber disso! De alguma maneira, a ansiedade maior do ciumento é não querer ser o "último a saber". Seria, pelo menos, um alívio à sensação de perda que já domina o seu coração - saber da "verdade", antes que de ser humilhado pelo outro. 

 

Agora, avaliemos isso em termos de Lila e Tattva. A Tattva dos ciúmes é a idéia de proteção, cuidado, zelo, - se pegarmos os aspectos positivos - ou desconfiança, medo, insegurança - nos aspectos negativos - , mas a Lila primordial deste comportamento é o sentimento de perda. A Lila dos ciúmes é carregar um peso da perda, de não ter aquilo que deseja ter. Ver o outro conversando com um desconhecido de maneira descontraída e alegre, pode em Tattva trazer os pensamentos: "Porque ele (a) está tão feliz em conversar com essa pessoa? O que será que essa pessoa tem? Quais são as intenções dessa pessoa com meu amado (a)? Acho que preciso avisar a meu amado(a) que essa pessoa não está com boas intenções". Mas, internamente, a Lila pode revelar outra coisa: "Ele (a) parece estar tão feliz com ele(a).... Acho que é com essa pessoa que ele(a) vai me abandonar... Na verdade, nunca o (a) tive mesmo... Nunca fui a pessoa especial... Preciso mantê-la na minha vida! Não quero ser abandonado (a).... Vou pedir para ele (a) parar de falar com essa pessoa, e assim, garanto ele (a) mais perto de mim..."Como a sensação de perda já está instalada no coração, o ciumento costuma agir com total certeza sobre as coisas que observa no universo do outro: "EU SEI que ele está dando em cima de você. EU SEI que você está mentindo pra mim. EU SEI que você vai me trocar. 

 

E agora? Como se libertar dos ciúmes? Como mudar realmente e viver relacionamentos mais leves? Se  a raiz é a sensação de perda, então será nela que você irá se focar. Se ela existe, é porque houve um momento propício para ela nascer - e há muitos outros momentos propicios para ela morrer.

 

Primeiro de tudo, encare a verdade: essa sensação de perda é real! Segundo: investigue porque ela está em você e porque você a manteve dentro de si. Terceiro: esteja pronto para "perder a perda", ou seja, perder os hábitos que a sensação de "perda" instalou em você.

 

É um caminho longo, penoso e provavelmente muito difícil de lidar, mas cada ciclo vicioso que nasceu, felizmente, pode ter seu fim. Disponha-se a dar um primeiro passo nesta jornada!

 

Citra dasi

 

logica
Lógica da Obviedade


Essa nova descoberta me trouxe para a raiz de muitos conflitos meus e de alheios que pedem ajuda sobre seus problemas. É uma equação bem simples que está totalmente ligada a qualidade de nossa comunicação:

 

MEU ÓBVIO + SEU ÓBVIO = CONFLITO

 

Uma historinha para ilustrar:

Um casal procura um local para estacionar na rua. Um diz: "Estaciona ali debaixo daquela árvore", o outro replica: "Não, pode cair uma manga em cima e estragar o carro. Prefiro estacionar ali na esquina". E o diálogo continua:- Naquela esquina? É muito perigoso ali. Vai que um carro vira a esquina de mal jeito e bate no nosso? Não, é melhor debaixo da árvore mesmo. Está mais vazio e parece mais seguro.- Como você garante que ali é mais seguro que na esquina? Prefiro a esquina mesmo. Está ventando hoje e tá claro que uma manga - ou muitas delas! - podem cair no carro. Já arrumei todo esse carro semana passada. Não tô afim de ter que mexer nesse carro de novo!- Mas é por isso mesmo que aquela esquina não vale a pena! O vento nem está tão forte e se a manga cair não vai fazer um grande estrago. Mas se um carro bater no nosso é claro que o estrago vai ser grande! - Você que está imaginando esse carro louco, com esse motorista insano que vai bater logo no nosso carro! Mas é ÓBVIO que aquela esquina não traz perigo nenhum!- Sério? Será que você não percebe? Fazendo um drama por causa de uma manga, mas não consegue perceber o perigo daquela esquina. É ÓBVIO que ficar debaixo da mangueira é melhor que aquela esquina ardilosa. Ai, meu Deus, será que você não entende?!

 

E a confusão pode durar um bom tempo. O tempo que alguém cede e o outro contrariado aceita. O tempo que a coisa continua na hora de servir os pratos no restaurante. O tempo que se paga a conta. O tempo que saem do restaurante e descobrem que nada aconteceu, ou que algo aconteceu - a bendita manga caiu e amassou o carro ou o bendito carro "do mal" fez um estrago no retrovisor do carro...

 

Enfim, a lei da Obviedade funciona assim: Eu estudo a realidade e vejo o que é melhor para a situação. A minha lógica é a mais adequada sobre a realidade.E o que outro faz? O mesmo! Todos estão bem estabelecidos em sua "lógica da obviedade" e a corrida pela verdade se torna um labirinto de fatos, evidências, grosserias, inferiorização do outro, impaciência e discussão em círculos. O tempo fará o papel de deixar apenas a lembrança do fato, mas no coração dos dois fica a sensação de que "faltou um argumento", "não fui ouvido com atenção", "fulano sempre acha que tem razão", "Não dá pra ceder pra sicrano", etc...

 

Mas, convenhamos, qual a graça de ter razão? E porque tanta energia gasta para mostrar o seu ÓBVIO da situação? E daí que o outro aceite - ou não - o que você pensou? O mais estranho na lógica da obviedade é que ninguém quer entrar em conflito, mas se vê "obrigado" a fazê-lo devido a incapacidade do outro de entender a realidade "límpida e clara" que se apresenta. Podemos colocar este exemplo em situações menos corriqueiras e até profundamente sérias relacionadas a escolhas de etapas de vida, ao envolvimento de terceiros na história, a questões que podem até definir o início e o fim de ciclos - até mesmo o ciclo da vida! Mas, na raiz de todas as coisas, está o ponto de uma comunicação que não se encontra, não se estabelece, não se relaciona, não descobre o outro, não se abre para novos universos e novas possibilidades.

 

Muitos relacionamentos encontram seu ponto fraco nessa lógica da obviedade. De repente, percebem-se falando sozinhos, cansados e birrentos em viver uma relação que não avança, onde o outro parece ser sempre o senhor da razão e o seu ponto de vista pouco ou nada compreendido. Será que é isso mesmo? Bom, minha descoberta mais importante do que perceber o quanto me prendia aos meu óbvios, foi perceber que essa prisão me impossibilitava de ouvir realmente o outro. Começar um diálogo era estar armada, preparada, atenta a lidar com o outro antes mesmo de ouví-lo.

 

Então, que tal quebrar todas as nossas obviedades? E, como fazer isso? OUVINDO! Mais ainda, ESCUTANDO! Escutar o outro é uma arte surpreendente, um exercício que demanda tempo, reflexão e prática contínua. Há milhares de travas, lutas internas, ciclos mentais que nos impedem de escutar. E, para tal, são necessários alguns pontos:

 

- ESCUTAR é só ouvir o outro. Ouvir além do ouvido. Ouvir com a mente. Ouvir com o coração.

- ESCUTAR é não formular idéias enquanto se ouve.

- ESCUTAR é não fazer conclusões enquanto o outro não completar seu pensamento.

- ESCUTAR é não pegar pedaços de frases e já construir seu contra-argumento.

- ESCUTAR é permitir que o que não faz sentido seja recebido e refletido.

- ESCUTAR é não esperar ter respostas prontas, nem desejá-las enquanto o outro fala.

- ESCUTAR é não controlar o diálogo para que a discussão ganhe um caminho mais favorável aos seus pensamentos.

- ESCUTAR é simples: O outro fala. Só o outro fala. Apenas o outro fala. Não é a minha mente, meus ideais, minhas convicções, minhas expectativas.

 

Experimente ESCUTAR apenas uma vez. Teste se enxergar vulnerável, desconfortável, fora de suas obviedades. Vale a pena sair um pouco das lógicas que nos sustentam e experimentar viver o R E L A C I O N A M E N T O. de verdade!

 

Citra dasi

 

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